Como vocês sabem iniciamos uma série de entrevista com pessoas inspiradoras. Tem sido cada vez mais desafiante selecionar o conteúdo e não deixar a entrevista tão longa, mas nossas conversas tem sido tão enriquecedoras que não queremos poupar uma única palavra para vocês. Esta semana conversamos com a Sarah. Ela é Austríaca e morava em Los Angeles com seu companheiro Erdem que é da Turquia. Em junho de 2014 eles decidiram viver uma vida nômade e montaram o projeto NONURBIA. Eles partiram da Califórnia com destino o fim do mundo, no Ushuaia. No meio do caminho adotaram a linda cadelinha Tara e descobriram que a vida na estrada tem outro significado e diferentes ritmos. Leia na íntegra esta entrevista inspiradora e saiba como eles fazem para se manter viajando.
Como surgiu a ideia de viajar pela América?
Em algum momento eu devo ter comentado com o Erdem que o sonho da minha vida seria viajar com a minha família em uma van fazendo documentários. Então uma noite, sentados em uma colina no deserto californiano, olhando para a super lua em maio de 2012, ele timidamente pegou a minha mão e disse que queria ir para a América do Sul comigo. É claro que uma proposta tão corajosa como essa logo transformou a nossa amizade em um romance, e os preparativos para a viagem até o fim do mundo começaram.
Por que vocês escolheram este carro e quais são os prós e contras?
Estamos viajando em uma Toyota Tacoma 2005 com uma barraca de teto. O carro é ótimo em todos os terrenos. É compacto, confiável e estava em uma faixa de preço que poderíamos bancar. Nunca tivemos que nos preocupar com ele na estrada, inclusive já cruzamos rios e dunas no deserto. O tamanho compacto dele permite entrar em estradas estreitas e pequenas vilas em montanhas sem nenhum problema, sem se preocupar com as fiações de energia que geralmente são baixas nestes lugares. Ele também cabe em um conteiner caso precisamos embarcar o carro, e isso já é uma excelente vantagem. Dormir na barraca de teto é ótimo em regiōes quentes, mas um pouco desafiante no frio, chuva e vento. Felizmente nós também temos a opção de dormir dentro do caro. Os altos e baixos da nossa casa sob quatro rodas é que nós passamos a maior parte do tempo ao ar livre, a gente tem que cozinhar e comer fora do carro. Isto é bom porque assim ficamos mais em contato com a natureza e é até mais fácil de conhecer outros viajantes ou os locais. Mas isto fica desconfortável quando o tempo está ruim. A gente curte muito este nosso esquema, mas desde que a nossa viagem se tornou bem mais longa e estamos trabalhando muito mais que originalmente planejamos, acho que talvez preferiríamos algo que permitisse passar mais tempo dentro do carro e que não requer montar acampamento todos os dias.
Vocês fazem algum controle de gastos?
Não somos bons nisso, rs. Nós apenas tentamos viajar o mais barato possível e trabalhar na estrada. Todos os meses olhamos o que gastamos e o que ganhamos para ver como estamos indo. Até agora estamos bem, o que é ótimo. Nossos custos mensais, incluindo tudo, são aproximadamente tanto quanto nós costumávamos gastar com o aluguel de um apartamento em Los Angeles. Desde que começamos a receber trabalhos freelance na estrada conseguimos cobrir nossos custos sem precisar mexer nas nossas economias que tínhamos orçado para a viagem. Temos sorte porque somos capazes de trabalhar como designers gráficos. Nós não esperávamos que seríamos capazes de trabalhar muito durante a viagem, mas de alguma forma está funcionando bem. Na estrada, eu sinto que temos mais espaço para ser criativos, os nossos clientes são mais flexíveis com o nosso calendário e nós somos mais felizes de estar trabalhando. De qualquer maneira, nós acampamos sempre e isso ajuda muito a manter o nosso budget.
Como vocês decidiram viajar com a Tara sua cadelinha?
Nós encontramos tantos cachorros de rua por toda a América Central e América do Sul. Começamos a cogitar a ideia de viajar com um deles. Um dia, na Amazônia equatoriana quase fronteira com a Colômbia, paramos em um posto de gasolina e vimos um monte de filhotinhos por ali. Eles estavam morrendo de fome e nós decidimos alimenta-los. Um deles insistia em nos seguir, ficava entre as nossas pernas, claramente queria uma carona com a gente e simplesmente não conseguimos recusar. A Tara tem quase um ano já e tem sido um pouco como criar uma criança, vendo ela passar por todas as etapas de desenvolvimento enquanto eu tento ensinar como se comportar. Algumas coisas são mais difíceis – como ir a museus, parques nacionais, restaurantes. Mas outras são mais agradáveis - os carinhos na cama de manhã, sair para passeios com mais frequência, ver a Tara fazer amigos, ver o mundo através dos olhos de um animal, observando sua relação com a natureza; às vezes ela fica super animada com uma grama macia ou areia macia e rola toda feliz ou fica olhando para fora da janela quando viajamos e ficando realmente animada quando ela vê a natureza ao redor quando paramos o carro . Ela é um bom sensor da natureza e também é uma segurança que não vamos voltar a uma vida normal na cidade em um apartamento.
Você alguma vez se sentiu insegura na estrada?
Eu acho que é normal ter um pouco de medo de viajar por lugares desconhecidos. Mas, de longe a coisa mais assustadora é, na verdade, sair do trabalho, deixar o apartamento e pegar a estrada! Fiquei apavaroda quando estava perto deste dia. Mas uma coisa que esta viagem me ensina todos os dias, é que trazer a coragem à tona através do medo é quase sempre gratificante. Neste um ano e meio nada de ruim aconteceu com a gente. E eu acho que as mulheres de alguma forma têm um bom instinto natural quando se trata de segurança.
O que você aprendeu sobre você nesta jornada? E sobre o Erdem?
Uma vida como esta é intensa. Nós estamos aprendendo tantas coisas sobre nós mesmos e sobre cada um. Estamos juntos 24h por dia todos os dias, um ano de estrada são como 10 anos de casamento. Não tem para onde escapar. Eu fico feliz de saber que o Erdem é uma pessoa que eu realmente posso passar tanto tempo junto. Eu acho que nós formamos uma equipe muito boa no geral. A única coisa difícil é encontrar tempo para mim. E isto deve ser o mesmo para ele. Essa é a desvantagem deste tipo de vida.
O que você teria feito de forma diferente nesta viagem?
Eu adoraria ter dado continuidade a um projeto, como um documentário. Nós conseguimos coletar muito material e temos um blog (www.nonurbia.com), tiramos muitas fotografias e fizemos alguns pequenos videos. Mas de alguma forma eu me arrependo de não ter criado um roteiro para tudo isso, seria legal para ligar os pontos. Na verdade é um desafio manter um equilibrio. Uma vez na viagem me senti como se eu tivesse pulado em um rio: ás vezes flutuando conforme o ritmo, ás vezes parando um pouco, mas tudo se move muito rápido e com muitas informações para absorver e processar. Encontramos muito menos tempo para ler e escrever e trabalhar em projetos pessoais do que eu originalmente imaginava. Fora isso, eu estou realmente muito feliz com esta viagem . É uma forma de vida que gostamos muito.
O que significa felicidade para você?
A viagem mudou tremendamente o meu conceito de felicidade. Acabou se tornando sobre as pequenas coisas da vida. Fomos criados para acreditar que precisamos de mais e mais – mais dinheiro, uma casa maior, um trabalho melhor, um carro mais rápido. Nesta jornada nossa vida diária tem sido muito básica, mas meu nível de felicidade aumentou muito. Nós acampamos o tempo todo, sentimos o calor e o frio. Vemos as estrelas à noite . Estou feliz de acordar na natureza sem ninguém por perto, e a Tara vem nos acordar na cama para fazer carinho . Me sinto feliz com uma boa refeição ou quando eu posso lavar o meu rosto em um rio frio. As vezes eu fico super animada com um banho quente – algo que era uma commodity antes. O mais básico e mais natural que se sente mais eu me sinto ligada à vida. Os seres humanos têm sido nômades e vivem em comunhão com a natureza desde o inicio da sua existência. Traveling overland simply feels like a modern version of natural rhythms long engrained in us.
Não sei vocês mas esta entrevista nos deixou com vontade de cair na estrada de novo. E você gostou? Deixe seu comentário! Semana que vem tem mais entrevistado, escreva abaixo alguma pergunta que você gostaria de fazer. Faça um elogio, uma crítica… fala ai!